A Violência doméstica e familiar contra mulheres é um fenômeno que não respeita raça/etnia, credo, orientação sexual/identidade de gênero, classe social ou nível educacional. Mas para mulheres e meninas negras, a realidade é mais cruel ainda, pois a violência de gênero vem acompanhada de racismo.
A saudosa Luiza Bairros, socióloga e ex-ministra da Secretaria de Política de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal, assim expressou-se:“O racismo e o sexismo influenciaram as relações que determinaram a sociedade brasileira no seu momento fundador. Isso está no DNA de nossa sociedade, é estruturante. E hoje, mesmo considerando tudo o que já mudou em relação ao que consideramos violência, não há como discutir violência contra as mulheres sem discutir racismo e sexismo no Brasil.”
Sueli Carneiro, historiadora e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, reitera a fala preocupante das barreiras impostas às mulheres negras: “Ser mulher negra é ocupar um lugar na sociedade brasileira marcado por múltiplas injunções que se potencializam para sua difícil inserção social.”
As mulheres negras também são a maioria das vítimas da violência institucional de gênero, o que se constitui em racismo institucional. As mulheres e meninas negras, ao buscarem atendimento na rede de saúde e na segurança pública, apenas para citar dois exemplos de pastas imprescindíveis para o pleno exercício da cidadania, não raro são vitimizadas e revitimizadas.
Ana Carolina Querino, representante da ONU Mulheres no Brasil, é categórica ao afirmar que “A versão institucional do racismo é uma de suas faces mais invisibilizadas e se refere tanto às falhas das instituições em garantir que todos e todas tenham acesso aos seus direitos fundamentais, como à falha em contribuir para a reversão das desigualdades baseadas no gênero e raça/cor das pessoas. Ou seja, o funcionamento das instituições permite que situações de exclusão de gênero e raça sejam perpetuadas na sociedade.”
Para maiores informações e dados, indicamos a leitura do “Dossiê Violência e Racismo”, da Agência Patrícia Galvão, fonte das citações feitas: https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia/violencias/violencia-e-racismo/
Também da Agência Patrícia Galvão, o Dossiê Feminicídio, ao abordar a violência contra mulheres negras no Brasil, traz números assustadores:
58,86% das mulheres vítimas de violência doméstica.
(Balanço do Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher/2015)
53,6% das vítimas de mortalidade materna.
(SIM/Ministério da Saúde/2015)
65,9% das vítimas de violência obstétrica.
(Cadernos de Saúde Pública 30/2014/Fiocruz)
68,8% das mulheres mortas por agressão.
(Diagnóstico dos homicídios no Brasil – Ministério da Justiça/2015)
Duas vezes mais chances de serem assassinadas que as brancas.
(Taxa de homicídios por agressão: 3,2/100 mil entre brancas e 7,2 entre negras – Diagnóstico dos homicídios no Brasil. Ministério da Justiça/2015)
Entre 2003 e 2013, houve uma queda de 9,8% no total de homicídios de mulheres brancas, enquanto os homicídios de negras aumentaram 54,2%.
(Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil – Flacso, OPAS-OMS, ONU Mulheres, SPM/2015)
56,8% das vítimas de estupros registrados no Estado do Rio de Janeiro em 2014.
(Dossiê Mulher RJ – ISP/2015)
Fonte: https://infogram.com/mulheres-negras-e-violencia-no-brasil-1g0n2ow033x3p4y. Créditos: Luciana Araujo/Agência Patrícia Galvão
Mulheres negras são as que mais sofrem violência doméstica no Brasil. São as que mais denunciam agressões. São as maiores vítimas de homicídio e feminicídio. É o que mostram dados estatísticos. As vítimas dessas agressões têm duas coisas em comum: gênero e raça. O que a frieza dos números deixa evidente é que a raça é determinante para as histórias dessas mulheres que sofrem violência. Leia mais na matéria: https://azmina.com.br/especiais/entre-machismo-e-racismo-mulheres-negras-sao-as-maiores-vitimas-de-violencia/
Para pesquisas sobre questão racial e questões de gênero, o site Geledes.org traz conteúdo sempre atualizado e é referência no assunto. https://www.geledes.org.br/category/questoes-de-genero/
Interseccionalidade Gênero-Raça e Etnia e a Lei Maria da Penha. https://www.geledes.org.br/interseccionalidade-genero-raca-e-etnia-e-lei-maria-da-penha/
Pesquisa Mulheres Negras e Violência Doméstica: decodificando os números – e-Book. https://www.geledes.org.br/pesquisa-mulheres-negras-e-violencia-domestica-decodificando-os-numeros-e-book/