Mulher negra, quilombola, esposa, mãe, professora, historiadora, pedagoga, militante do movimento negro e da comunidade Tia Eva são algumas características que tentam descrever quem é Vânia Lucia Baptista Duarte. Ela assumiu a Subsecretaria de Estado de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial. Enfrentou muitos obstáculos por ser mulher negra, e sempre acreditou que a forma de vencê-los é por meio da educação.
Graduada em história e pedagogia, a professora gosta muito de conversar com adolescentes, e ajudá-los na formação do antirracismo. “Reconstruir e reeducar os indivíduos é o único meio”. Mesmo ascendendo profissionalmente, Vânia continua sofrendo racismo. “Sobre a discriminação racial eu passei e passo até hoje porque eu sou negra não importa se eu tenho dinheiro, estou bem vestida, estou limpinha, eu continuo sendo negra, então eu continuo sendo discriminada”, lamenta.
Inspirações
Assistente social, advogada e ativista brasileira, Raimunda Luzia de Brito é uma inspiração para Vânia, primeira mulher negra com ensino superior que se aproximou da comunidade quilombola Tia Eva, com objetivo de realizar um projeto para as crianças e adolescentes da comunidade. “A professora Raimunda fazia algumas atividades no final do ano e premiava os alunos que tinham as melhores notas nos boletins, para valorizar o estudo. Porque na comunidade a maioria das pessoas não tinham concluído nem o ensino fundamental e não porque não queriam, e sim porque o foco sempre foi o trabalho”.
Com o apoio de Raimunda, Vânia tentou entrar na Universidade Federal, por meio do vestibular, que era a única forma possível na época, mas não obteve nota suficiente. O ponto de virada de sua vida foi descobrir a Bolsa Social na UCDB, dessa forma entrou na universidade de história. Ela trabalhava como empregada doméstica de dia e à noite fazia faculdade. Quando começou a ter aulas aos sábados, Vânia pediu à mulher para qual trabalhava, que a liberasse aos sábados. Ela não aceitou a proposta e a demitiu. Logo em seguida surgiu a oportunidade de entrar em um projeto social que estava acontecendo na comunidade, dessa forma, começou a ganhar 250 reais por mês, depois ganhou bolsa da Universidade e começou a trabalhar na coordenação de um curso pré-vestibular, assim conseguiu continuar os estudos.
Em 2004 quando a Subsecretaria de Estado para a Promoção da Igualdade Racial foi criada e ainda se chamava Coordenadoria, Vânia era servidora, agora volta como Subsecretária. Ela quer seguir na caminhada acadêmica e fazer mestrado. Acredita que as mulheres negras ainda têm muito a avançar e uma somar a outra. “Em vários espaços que nós estamos, somos a única mulher negra, é importante que outras negras venham a ter sucesso, inspirações e conquistas”.
Trajetória profissional
Graduada em História pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Pedagogia pela FAVENI, tem especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça; e em Gestão Escolar, além de estar cursando especialização em Metodologia de Ensino de Geografia e História.
Já exerceu as funções de coordenadora do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-racial – FORPEDER; foi coordenadora do Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro de Mato Grosso do Sul; conselheira titular no Conselho Municipal dos Direitos do Negro e conselheira titular no Conselho Estadual dos Direitos do Negro de Mato Grosso do Sul.
É vice-coordenadora do Grupo de Mulheres Negras em Ação da Comunidade Tia Eva; presidente do Conselho Fiscal da Associação dos Descendentes de Tia Eva da Comunidade Remanescente de Quilombo Eva Maria de Jesus, Tia Eva; e secretária executiva do Instituto Dandara, além de membro do Grupo TEZ – Trabalhos Estudos Zumbi.
Vânia é uma mulher forte que quer construir políticas públicas de qualidade para pessoas negras em todas as suas vertentes. “Quero conseguir construir um espaço para o negro, o quilombola, para as pessoas de religiões de matrizes africanas, de terreiros e ciganos”, comenta a subsecretária.
Publicado por: Jaqueline